sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Um mês em solo irlandês

Hoje faz 1 mês que chegamos aqui...
A impressão que tenho é que faz bem mais tempo... Nestes míseros 30 dias, aprendi tanta coisa que nem sei dizer... Essa brincadeira de gente grande não é fácil e a Peter Pan aqui não quer crescer de jeito nenhum.
Já tenho uma casa, segunda terei meu visto e logo, logo terei meu emprego.
Meu inglês deu um salto de 2 pra 4 numa escala de 1 a 10... e ainda vai melhorar muito =D
Fiz novos amigos, mas que jamais tomarão o lugar dos antigos...
A experiência do intercâmbio tem sido exatamente como eu imaginava, porém muito mais intensa... tanto no bom sentido quanto no ruim...
A Irlanda é linda como eu imaginava, só que MUITO MAIS LINDA e a saudade dói como eu imaginava, mas DÓI MAIS DO QUE QUALQUER DOR que eu tenha sentido.
Achei este texto da Clarice Lispector e ele é exatamente como me sinto em relação ao Brasil, a minha família aos meus amigos!
"Saudades

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.

Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,

de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,

do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,

que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!


Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas

que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,

de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia

e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!


Sinto saudades dos cds que ouvi e que me fizeram sonhar,


Sinto saudades das coisas que vivi

e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...

não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades

Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,

espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples

"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente

a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...

Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca

de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência..."
Clarice Lispector

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